quarta-feira, 9 de novembro de 2011

instantâneo do vídeo "Sobre ilhas e pontes" 



"Sobre ilhas e pontes", trabalho apresentado na forma de pequena instalação áudio visual na exposição Cidade e Desaparecimento procura trazer a tona algumas questões que perpassam as relações entre arte, seus objetos, lugares e dispositivos de apresentação, assim como acionar a memória da cidade, de seus habitantes e do próprio lugar que os abrigam. O vídeo mostra uma caminhada em um parque da cidade do Rio de Janeiro, lugar pitoresco, que guarda em sua área dois outros espaços criados no século XIX; duas heterotopias, diria Foucault. 

Pensado primeiramente como registro da ação no parque, o vídeo se desdobra em obra, e com essa nova forma adquire certa autonomia podendo tomar diversos espaços de exposição, e nesse caso especificamente, indo além, e envolvendo o projeto e a construção de um dispositivo de apresentação incomum para imagens em vídeo; uma vitrine que trata diretamente da relação com os dispositivos museológicos e a exibição de suas coleções, sejam de objetos antropológicos, etimológicos ou outros tantos dados a ver nos museus, e que também evoca coleções particulares e gabinetes de curiosidades.   

Durante a caminhada, a câmera leva o espectador a refazer seu percurso até uma dessas heterotopias,  e poucas são as pistas que podem revelar o lugar para onde se dirige. Não se procura tratar portanto do imediatamente reconhecível, mas de acionamentos de memórias subjetivas e particulares, de ampliações espaço-temporais. Assim, lentamente, o espectador começa a tornar parte da obra, a vivenciar o espaço que se anuncia e que se vê capturado como imagem pela câmera e emoldurado não só por uma vitrine e passe-partout, mas também pela instituição mesma que os abriga, visitante e obra. Também a música compõem junto as imagens uma cadência que o incita a percorrer o espaço visitado e o captura. Conjugados, som e imagem começam então a convocar outros espaços, como o espaço da memória ao evocar outras temporalidades e ausências; conceitos, como público e privado, real e virtual e questões de vida arte, como pertencimento e não pertencimento, transparência e opacidade.

A medida que caminhamos, colocamos nossos sentidos em alerta a fim de poder exercer uma espécie de domínio sobre nosso corpo e sobre o espaço por onde nos deslocamos, e ao mesmo tempo que avançamos, seja sem rumo predeterminado ou com um propósito definido, vamos deixando para trás traços de nossa passagem por outros lugares caminhos espaços e memórias de encontros e de nós mesmos.  

Durante a caminhada-convite poucas são as referências que cedem ao olhar do visitante-observador-partícipe o prévio reconhecimento do lugar onde se dá a ação e para o qual é transportado; condição de possibilidade de encontros com o imprevisto, posto que o lugar para o qual a câmera avança, lenta mas imperturbavelmente, permanece por longo tempo como invisível presença. 
Instalado dentro da vitrine e envolvidas pelo passe-partout, o trabalho ao mesmo tempo demanda outra postura na aproximação física do visitante, a imagem só pode ser vista por um recorte na grande moldura e a altura do anteparo (da tampa da vitrine) obriga-o a dobrar seu ventre e assim posicionado se vê condenado a experimentar uma posição menos vertical e usual. 

A localização do móvel na galeria também conta com o inesperado. Posicionado à esquerda da entrada da galeria, praticamente atrás de uma das portas, portanto em lugar pouco provável de se localizar um objeto de arte, o visitante apressado só o descobre à saída, depois de ver toda a exposição, e aí então percebe de onde vinha a música que ouvira à distância. Aí então, entre obra visitante e espaço fecha-se um circuito.